domingo, 30 de dezembro de 2012

Como é difícil gerir uma mente em fuga e um corpo que só se quer desligar.

sábado, 29 de dezembro de 2012


Procuro em mim aquilo que quero fazer, quais são meus desejos, quais a vontades e um objectivo a cumprir. Esta nova revolta de valores, palavra já tão sem sentido, apenas trás mais confusão, eu sei que tenho que trabalhar e ocupar meu tempo, sei que tenho que deixar de pensar nela e das infinitas formas que penso para a reconquistar, é tempo inútil, não volta mais. 

Talvez só me reste a fuga, quando nada se tem a perder mais vale partir à procura do que procurar sempre na mesma fonte.

Durante demasiado tempo tive medo e vergonha de amar, tinha deixado de fazer sentido, agora é o mais alto valor que tenho e o único que não consigo preencher, o peito tem formas tão curiosas de agir.
Vou a locais novos à procura de almas antigas, encontro pessoas cansadas, envelhecidas, consumidas por um medo que temo ser igual ao meu, apenas dez anos passaram, o que é que nos aconteceu?!
Caminho horas sem fim por esta cidade, a cidade que já consumiu tudo o que tive para dar, há recordações nas pedras da calçada, caminhos percorridos entre abraços e beijos longos. Corpos de mulheres cansadas e corpos de mulheres com desejos, corpos, corpos absortos em qualquer coisa que os fascine. Paredes e ombreiras de portas onde nossos corpos rolaram, janelas abertas para quartos pintados de vermelho sangue e onde lá dentro nada mais se encontra a não ser o abandono do peito, é nesse quarto que se deixa a dor, onde fica lá para apodrecer, para poder-mos continuar a caminhar, de novo na procura de um amor que nos estilhace o peito pela ultima vez, fechou-se a porta do quarto azul trancada por dentro e com as janelas entaipadas com as tábuas de um velho banco de jardim, aquele que foi só nosso, dois amantes enjeitados pela maldição, aquela maldição em que ninguém acredita mas da qual todos sofrem.

O nevoeiro que habita dentro da minha cabeça não permite ver para fora, deturpa o pensamento, começa a trocar as personagens do filme, meu amor tem apenas um sentido, mas tantos corpos pelo caminho, tantos seres que imploraram e os deixei à espera do coveiro, enterrei-as vivas.

Eu sim sou o ser frio e cruel, ainda agora a minha doente mente me leva para a entrada de tua casa, paredes revestidas a cortiça, degraus gastos e cansados, num sonho em que tudo corre bem, tu vens à porta num contra luz suave, acabaste de tomar banho e de secar o cabelo, emanas luz, os teus olhos depressa ficam vermelhos das lágrimas que correm da saudade, nada dizemos, olho no profundo verde das portas da tua alma, trazes vestido umas meias às riscas pretas e cinza e aquela saia escura, grossa com o seu negro já desbotado de tanto uso, que tanto gosto, uma pequena camisola de alsas bordô, que revela o alvo doce dos teus ombros, estás descalça, sentes-te em casa, estás feliz por estar-mos, de novo, nós.
Neste momento o coração para e a mente prega mais uma partida quando me chama à atenção que não estou a viver a realidade, fecho os olhos por momentos para tentar sentir o beijo e o peito que tanto quero, em vão o faço, apenas a minha velha companheira cá está, bem vinda, solidão.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012


Não gosto que as drogas me toldem o pensamento.


Como uma ida à fonte


 
 Todos os dias passo à tua porta
E finjo que não passo.
Paro segundos, penso e passo.
Passo pelo peito e não lhe ligo,
Visito o passado e sorrio.
Trago no peito o sentimento,
A vã esperança que custa a morrer,
Passo por ela e passo por ti.


Poema de 2002
Foto 2012

Um desejo em Ré



Não me importa que me abram a gaiola
Não quero mais ser pássaro
Quero ser eu.
Voar com os pés na terra, o pensamento no
Peito.

Trago os retalhos do que fui
E as duvidas que me atormentam
Quero ser quem ainda o não sou
Nada perto de ser,
Imperfeito.


Poema de 2012
Foto de 2012

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Fá7



Escrevo cartas emocionadas e cheias de paixão, de seguida as rasgo para não pensar mais nisso.

Evito pensamentos que me levem para lá do presente, há uma memória demasiado dolorosa para conseguir ser resolvida, só apetece fugir, criar planos de fuga, por mais estapafurdios que sejam. Todo o mundo contra mim, eu contra todo mundo e assim gira num remoinho que não para, já não são as dores no peito que me afligem pois nunca tive medo da morte, quando vier, cá a espero de olhos bem abertos, não são importantes agora as horas de solidão que sempre me acompanham, já nada importa, nem as paragens de autocarro, os bancos de jardim, os ardores dos poetas, nem tanto interessa estar aqui. Muito pouco faz sentido neste carrossel de sentimento.
Pensar é como arrancar pequenos pedaços da carne que me cobre os fracos ossos. Não tenho porto nem refugio, procuro entre as chuvas deste inverno frio algum sinal de que algo muda, sempre em vão, como sempre fiz, não consigo libertar-me deste sentimento de culpa, desta angustia que me atravessa o peito e me obriga a recorrer a todo o mal que trago em mim, amaldiçoado fui quando subi aquela fonte pela primeira vez, que negrura me trouxe ao peito, para que agora nem com as palavras consigo exprimir o ardor que vai em mim.
Tento não rever minuciosamente cada passo que fiz, procuro não me confundir nas memórias nem trocar os actores, é tão difícil gerir uma mente em fuga, que se está sempre a evadir para aqueles recantos onde tudo é calmo, onde os gritos incessantes se tornam silêncio, onde as chamas que queimam a carne são um agradável calor de primavera, pura escuridão. Mas tento com força, reúno toda a energia que há em mim para não ir para lá, para esse tão sedutor canto, leito fofo, leite e bolachas. Quero vencer.

Novamente a minha mente se põe em fuga, deve ser já o efeito das drogas que ingiro de forma a combater a insónia, penso em campos verdes e uma brisa suave, cliché dos clichés.

Durmo.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012


A um amigo:

Põe-te bom que és natureza,
não te julgues homem parado.
Pois se a morte é uma certeza,
fazemos festa, largamos fado.

Põe-te bom que és preciso
não te aches com tudo feito.
Pois a gargalhada e o sorriso
são para soltar do nosso peito.

Que do sonho nasce o melhor que existe,
alguém a quem entregam um dom
é um ser luz que não desiste.

Limpa a casa, arruma teu fundo,
anda e vamos ver um novo mundo.

Em: Lugar de Amargas Laranjas 2008
Por António Ruival




segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

2º inversão de Lá m



Respiro fundo e resolvo meu peito.

Não me faz sentir a mesma dor, de novo sinto as mãos e a boca.
Tanto ignorei meus amigos que até a amizade de quem mais amei desprezei e espezinhei, isso é o que mais demorará a sarar. Tanto aprendi nesta viagem, que para quem tem esperança e carinho no peito, não terminou, coisas que ficarão para sempre, mas tão pouco bem fiz, tanto exigi, só tristeza isso me trás, tristeza para guardar e aprender.
O olhar para o que passa, e passou, e ver o quanto já errei, não peno por isso, nem mais me deixarei abater, aprender esse é o mote, coisas boas a ficar na mente e [a] recordar com saudade alegre.
Não foram buracos que se abriram nem feridas que cresceram ou sararam, hoje compreendo, e a ti o agradeço.
Não posso dizer que o peito não pesa mas é um pesar diferente, convenço-me de que estou errado e paro para me ouvir, estava errado, tão errado, sempre tiveste razão, porque não te dei ouvidos, tanto que me avisaste em silêncio. 
O meu egoísmo fez-me cego, surdo, incapaz de perceber as quantas contradições te segredava, o meu pavor pela solidão fez com sugasse a vida frágil que em ti residia, foi um erro, o maior de sempre e de todo o sempre, como estava errado, quanto mal te fiz e o quanto me envergonho por isso.
A ti não posso mentir, só a mim minto para não subir a varanda, nem arrombar a porta da cama onde dormi, tal é a saudade e esperança cega que reside em mim.
As palavras que escrevo são para mim, para tomar consciência do fim desta viagem e marcar bilhete para a próxima, contigo a meu lado ou com a solidão que mais não me assusta.


sábado, 15 de dezembro de 2012

Retrono ao azul Fá#Maj7



Fico pasmado até com o pensar. 

Hoje de volta a esta cela onde tenho passado meus dias, a luz ofuscante dos monitores faz com que a alma se retraia, absorvida por um profundo peso gravítico e abate-se sobre si mesma. Os dias que passam entre soluços descontrolados e a contemplação da chuva são uma constante desde a partida, sou o amado cliché que sempre fui, lamechas, desesperado e só, ansioso pela destruição de algo que só a mim me estilhaça o ser.
Não vejo numa gota radiante um pouco de brilho que seja, as amoras silvestres colhidas com carinho agora são espinhos que atravessam o peito, são os amargos cafés que bebo pela manhã, são dolorosas memórias da varanda onde sempre tem nascido o sol, ali mesmo a um passo do que chamo lar.
Poderei ter pisado as pétalas de Outono e sentido as primeiras chuvas, que não foram mais que um pequeno suspiro na imensidão do que já havia partido, lágrimas frescas de veludo que corriam pelas calhas da varanda. Meu peito uma cratera, meu corpo um frasco para uma alma já cansada de penar. A vergonha cobre o semblante que trago carregado, mendigo por um abraço que não vem, mingo, recuo, murcho e desfaleço nesta cama, neste leito fofo que me acolhe em exaustão.