Fico pasmado até com o pensar.
Hoje de volta a esta cela onde tenho passado meus dias, a luz ofuscante dos
monitores faz com que a alma se retraia, absorvida por um profundo peso
gravítico e abate-se sobre si mesma. Os dias que passam entre soluços descontrolados
e a contemplação da chuva são uma constante desde a partida, sou o amado cliché
que sempre fui, lamechas, desesperado e só, ansioso pela destruição de algo que
só a mim me estilhaça o ser.
Não vejo numa gota radiante um
pouco de brilho que seja, as amoras silvestres colhidas com carinho agora são
espinhos que atravessam o peito, são os amargos cafés que bebo pela manhã, são
dolorosas memórias da varanda onde sempre tem nascido o sol, ali mesmo a um
passo do que chamo lar.
Poderei ter pisado as pétalas de
Outono e sentido as primeiras chuvas, que não foram mais que um pequeno suspiro
na imensidão do que já havia partido, lágrimas frescas de veludo que corriam pelas
calhas da varanda. Meu peito uma cratera, meu corpo um frasco para uma alma já
cansada de penar. A vergonha cobre o semblante que trago carregado, mendigo por
um abraço que não vem, mingo, recuo, murcho e desfaleço nesta cama, neste leito
fofo que me acolhe em exaustão.
Que te alivie o saber que não é só dentro de ti que há assim, que aprendas a dar-lhe só o suficiente valor por um dos inúmeros meios. ()
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