sexta-feira, 12 de julho de 2013

 E novamente sozinho neste bar, verdade seja dita que de bar de hotel já sou perito, muitas horas ao balcão ou na esplanada..
Mas não é como Hollywood nos vende. Não existem mulheres bonitas, tirando a bar maid que me olha já com asco, não há glamour nem longas conversas de desabafo alcoólico. O que apenas há é uma desculpa para combater a solidão, enquanto se degustam os melhores uisques que existem, o desengano e o tempo para pensar em tudo o que não interessa, até mesmo naquele pensamento que assalta e em qual não quero pensar: parece que te perdi para sempre, vais partir em busca da tua sorte, nessa busca pelo precisas e mereces e eu ficarei aqui, a olhar as paisagens que fazem de ti quem és.

Esse belo amor fogo que não soube manter. 


terça-feira, 2 de julho de 2013

Café tardio..

Como sempre e para não ser diferente, ele está sentado na esplanada verde e enquanto sorve as ultimas noticias do jornal já tardio, vira costas à rua e à janela. Tenta concentrar-se no verde que tem à sua frente enquanto desculpa para não pensar, e enquanto o não pensamento avança outros se infiltram, como se fossem aquelas odiosas  manchas de bolor que existem pelos prédios desta cidade, bela e podre. Podre por ser bela, bela por ser podre. Esses enviados do mal, entram devagarinho pelas sinapses do não pensador, ele evita a todo o custo que eles não entrem com mais um cigarro e uma lambidela rápida pela politica internacional, que seca. Tem a tentação de olhar para trás. Quer ver o que não quer, está à procura, nessa incansável busca por aquilo que mais anseia, um reencontro impossível, um abraço espontâneo, um beijo roubado. Pensamentos vis passam, o não pensador agora depara-se em pleno pensamento, quais serão as escadas e os caracóis que passam, será do fogo, do calor da aguardente, do discutir de ideias na varanda como nunca fiz, será por causa das vielas, das paisagens novas que estas ruas trazem consigo, será da descoberta ou do medo incrível da não aceitação, solidão, solidão, porque raio vens com o pensamento.  
Virou-se na cadeira.
Não para o lado e muito menos de pernas para o ar, virou-se para dentro, ou mesmo tempo que o corpo se contorcia numa agonia imensurável, estava em plena lucidez e os demais por nada deram a não ser por um tipo que estava a suar um bocado, maldita ideia esta da aceitação. Enquanto se virava para dentro recorria novamente ao não pensar mas este agora já não resulta, já lá foi o verde, o café e o jornal tardio, os pássaros que cantam nas árvores e tudo mais que o não pensador utiliza para não pensar. Os pensamentos infiltrados levam a mente a trazer à tona tudo o que o não pensador não quer pensar, nas amadas perdidas, da enorme vontade pela verdade, pelo desejo em não sentir, das janelas e conselhos tomados em vão, das manipulações, das palavras mal entendidas e dos poemas mal lidos, são suaves momentos de agonia que o não pensador pensa, queria ele não pensar, a saudade é um parasita, está cá dentro, existem emoções que nos vão perseguir para sempre, emoções de bem e mal, momentos de alegria e até felicidade, dor da perca de alguém que nos faz falta juntamente com os poemas do Ary, construções arcaicas do que são os alicerces do peito. Contorce-se o mundo à volta. Vê coisas, tem alucinações tão claras como água pura num copo de cristal, julga acontecer o acalmar dos seus anseios, sonha com o tal beijo roubado, com os locais que lhes foram queridos e engana o pensamento, pensa na calma e não pensa novamente, e novamente num sufoco tudo acalma, a realidade volta, os pássaros voltam a cantar e o verde está mais verde do que nunca. Repara que não se voltou na cadeira, que resistiu à tentação de partir naquela busca desenfreada por algo que já não vem. Respira fundo e acaba o café e o jornal tardio. – Está tudo bem. – diz em surdina.
Ela senta-se na cadeira à sua frente.