Escrevo cartas emocionadas e cheias
de paixão, de seguida as rasgo para não pensar mais nisso.
Evito pensamentos que me levem
para lá do presente, há uma memória demasiado dolorosa para conseguir ser
resolvida, só apetece fugir, criar planos de fuga, por mais estapafurdios que
sejam. Todo o mundo contra mim, eu contra todo mundo e assim gira num remoinho
que não para, já não são as dores no peito que me afligem pois nunca tive medo
da morte, quando vier, cá a espero de olhos bem abertos, não são importantes
agora as horas de solidão que sempre me acompanham, já nada importa, nem as
paragens de autocarro, os bancos de jardim, os ardores dos poetas, nem tanto
interessa estar aqui. Muito pouco faz sentido neste carrossel de sentimento.
Pensar é como arrancar pequenos
pedaços da carne que me cobre os fracos ossos. Não tenho porto nem refugio,
procuro entre as chuvas deste inverno frio algum sinal de que algo muda, sempre
em vão, como sempre fiz, não consigo libertar-me deste sentimento de culpa,
desta angustia que me atravessa o peito e me obriga a recorrer a todo o mal que
trago em mim, amaldiçoado fui quando subi aquela fonte pela primeira vez, que
negrura me trouxe ao peito, para que agora nem com as palavras consigo exprimir
o ardor que vai em mim.
Tento não rever minuciosamente
cada passo que fiz, procuro não me confundir nas memórias nem trocar os
actores, é tão difícil gerir uma mente em fuga, que se está sempre a evadir
para aqueles recantos onde tudo é calmo, onde os gritos incessantes se tornam
silêncio, onde as chamas que queimam a carne são um agradável calor de
primavera, pura escuridão. Mas tento com força, reúno toda a energia que há em
mim para não ir para lá, para esse tão sedutor canto, leito fofo, leite e
bolachas. Quero vencer.
Novamente a minha mente se põe em
fuga, deve ser já o efeito das drogas que ingiro de forma a combater a insónia,
penso em campos verdes e uma brisa suave, cliché dos clichés.
Durmo.
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