quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Estória de um ser [não] tão vulgar em t(i)rês partes, três de três

No final ficam os restos de alguém..

É como ser estrangeiro no nosso próprio lar, procurar entre línguas e passados obscuros, que na realidade foram abonados com claridade, só não conseguia ainda ver. Estou estragado.

- Para baixo, para baixo! – sabes que mais tarde ou mais cedo vais descobrir, agora só resta saber o quanto lá ficou, o quanto sobra, a outra?! [a outra] Noutro tempo virá.

Tento desesperadamente entrar em contacto com outro ser, como é horrível viver em pânico da solidão, de estar (S)ó. Tal como velho parente [como ela dizia que, a ti, não aconteceria o mesmo, o quanto ela disse, palavras vãs], morreu só, podre, triste, só a humildade e a caridade fizeram dele, uma sombra, num moribundo nobre, é viver um futuro agora muito perto do presente.

- Resiste, resiste! – já não vai doer muito mais, à um ponto onde a dor acaba, passa a ser parte de nós, acordamos com ela levamo-la ao banho, lavamos os dentes juntos e vestimos a mesma roupa, quando saímos á rua, ela vai connosco, mas ninguém sabe, o cinismo é a melhor mascara, quando aplicado à nossa dor, é a que menos fere a realidade.

Recordo um dia frio de Verão [nunca entendeste] tentei dormir contigo e entrelaçar teu corpo no meu, tinha tantas saudades, tanto tinha mudado nos últimos meses, quase não te encontrava, repudiaste-me, por entre encontrões e choro expulsaste-me da cama em silencio, num puro gesto passivo de agressão [não consigo – gemeste].
Ainda o tento entender, vejo agora que nunca estiveste lá, nunca te interessou as pedras que pisei noutros tempos, a história das ondas que lutava quando era criança, os prazeres das esplanadas à beira mar, o andar sem fim e sem destino, as tristes melodias de músicos antigos, as viagens que tentei fazer, o que fiz, o que faltou, ainda não consigo viver com a angustia desta dor. Ainda não apareceu nenhuma mulher que me a levasse.

Quero ser esquecido, morrer sem ambições, pois o que quis está perdido e garantidamente não volta, eu já não consigo, tenho tantas duvidas, de mim, de ti, deles, do nós que nunca existiu e que nunca foste capaz de aceitar..

Torna-se deveras complicado encontrar alguém que te preencha agora o vazio, o imenso. Os corpos, os cheiros, os olhares, as conversas metem nojo, procuro refugio em pequenos entes como noutros tempos o fiz [, o cabelo fogo, azul, demónios de doce aroma].

(dois corpos sós dormem na mesma cama, o silencio é profundo depois dos gritos de uma noite de desejo, não se tocam, têm agora vergonha, esperam que nasça o sol para que suas vidas prossigam sem lembrança do que foi amar assim)

Durmo[descanso](Procuro)..

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