Estou farto de hipocrisia, hipocrisia
nas palavras das pessoas, nas chamadas redes sociais, nas conversas
de café, nos debates políticos, nas palavras que troco à mesa com
os meus pais, nas opiniões dos mais variados painéis de comentadores
político-sociais (e ó desportivos).
Deixo aqui de parte a poesia (mas não
tanto a ironia) e tento ter uma análise objectiva, que tanto de
subjectiva tem como qualquer boa análise se quer, para tentar fazer
o ponto de situação da Humanidade que sinto em mim e que tanto me
doí e me faz perder o sono que tanto necessito para continuar a
existir.
Sejamos honestos, a culpa dos
incêndios, dos roubos em paíois militares, das almoçaradas em
panteões e escolas maçónicas, das negociatas com submarinos,
messes, falsas licenciaturas, trafulhices várias, não advém de
hoje nem de nós povo, advém de uma pura hipocrisia de uma certa
classe neo-burguesa de raiz judaica (prometidos portanto, não sou
anti-semita, muito pelo contrário, sou a favor da comunhão de todos
os povos e todos os credos, apenas não suporto a ideia de ser-se
prometido e, de que, por herança se tem supremacia sobre o quer que
seja, é apenas um reparo e bem real neste caso). Foram estes seres
que atentaram perante os valores do amor e da vida e que tanto fomos
menosprezando até ao ponto sem retorno em que nos encontramos hoje,
sim, esta análise é um apelo à rebelião.
Vejamos alguns tópicos sobre e
reflectimos:
Vemos animais a morrer à fome e à
sede, comemos croquetes de vitela, leitões e cabrito, não sabemos
de onde vem essa tradição, vem dos pobres criadores de outras eras
que tinham que sacrificar as crias para bem da manada e faziam delas
uma refeição pois nada se podia desperdiçar. A fome era imensa.
Hoje em dia é "chique" e considerado "gourmet".
E dizemos que estavam óptimos, mandamos vir uma alheira de caça.
Ficamos emocionados com as crianças a
morrer de fome e dor no Darfur (alguém se lembra?!), na R.C.A., na
Birmânia, na Síria, na Venezuela e em que mais locais espalhados
por este mundo. Não damos conta que a vizinha de baixo passa fome
para dar de comer aos netos, bebe dois copos de água e vai para a
cama pois amanhã a estória repete-se. E deitamos o resto da sopa no
lixo pois amanhã vai estar azeda.
Temos pequenos ditadores do novo mundo,
e de alta influência, a sortear um planeta que não é deles. Em vez
de nos insurgirmos ficamos parados a teclar furiosamente tais
fascistas do pensamento em que só a nossa razão é pura (coitado do
Kant) e que são as nossas opiniões inflamadas e sem contexto, e
muitas vezes sem noção, é que vão mudar alguma coisa. E
continuamos a ler e acreditar nestas baboseiras.
Todos ofendem os outros por causa de
menos de duas dúzias de pessoas, que auferem milhões, a correr
atrás de uma bola para a tentar por entre dois postes quem nem cães,
sem deixar de dar primazia e amor aos cães pois para eles isso é
felicidade e não uma forma de ser superior a outro, é apenas uma
forma de passar o tempo, entre sonecas e comezainas. E regozijamo-nos
quando o nosso clube vence.
Os putos escrevem mal, não aprendem
nada na escola, tratam mal quem os atende e cometem pequenos delitos
como se fossem donos de um mundo que não é deles, os professores
pensam que são intocáveis e nada fazem para se impor graças a um
sindicato que não é mais do que um pequeno latifúndio de um
proto-fascista de bigodaça farfalhuda. E pedimos a demissão do
ministro da tutela.
Existe uma geração, a minha, que
nunca soube o que é um subsídio de férias quanto mais o décimo
terceiro mês, que entrega mais de metade do que recebe do seu
trabalho árduo a um estado que não o protege de qualquer forma, a
indignação vem da parte de empresários com avenças milionárias
em que um ponto decimal a mais na sua contribuição ao bem estar do
povo que o rodeia e sustenta já é demais. E dizemos em voz baixa:
"Coitados dos desgraçados que trabalham, precários e a recibos
verdes."
Ficamos ofendidos quando se faz um
jantar de gala num local que não é mais que um monumento à
república, ao reinado Afonsino, ao advento e diáspora do Homem
português e que pode e deve ser utilizado para muito mais do que um
sarcófago, quando na realidade poucos são os corpos realmente lá
sepultados e que estão muito fora da nave onde esses eventos
decorrem (conheçam os espaços, Sta. Engrácia é muito mais que
isto) e que vêm de todos os campos da existência e que são apenas
uma forma de relembrar a nós, povo português, que somos muito mais
do que essa pequenês mesquinha, que somos Pessoa, que somos Almada,
que somos Cesariny, que somos Régio, que somos Oulman, que somos
Paredes, que somos Camões, que somos Sancho, que somos Egas, que
somos Saramago, que somos Lobo-Antunes, que somos Siza-Vieira, que
somos Herman, que somos Villaret, Sinde Filipe, Paião, que somos
tudo isto em muito mais que não tenho caracteres que cheguem para
fazer jus ao génio. E ficamos inflamados e raiventos pelo
desconhecimento e preconceito sem nunca termos bem feito reverência
a todos estes seres e os valores que acarretam.
Existiu uma revolução sem sangue que
não foi mais que um virar de regime, para bem duma Europa que se
queria reunida numa tentativa de irradiar a divisão que a cortina
de ferro deixada por uma outra guerra deixou mas que ainda se manteve
por muitos mais anos. Resultou em anos de anarquia, tristeza, dor e
morte para os que estavam dependentes desse regime ou que queriam um
melhor, ou uma forma de liberdade que não aquela ou a que foi
instaurada, para os que cá estavam e para os que voltaram sem nada.
Deixou quem lá estava, e que esteve desde sempre, sem nada e ainda
hoje numa guerra sangrenta, na corrupção, na fome e no abandono.
Hoje damos vivas a Abril como se de algo de bom, para além da
liberdade de expressão e abertura ao mundo, o que já era garantida
a essa classe que hoje nos deixa neste desespero, (alguém se lembra da
chegada apoteótica, ou idiota, de um célebre estadista a Sta.
Apolónia?!). Tiveram que vir os importantes do F.M.I. e os
governantes dessa Europa impor o seu respeito e leis. E hoje esse dia
é feriado e vai tudo para praia que o Atlântico é generoso.
Ficamos estupefactos quando um
segurança de uma discoteca da moda é filmado a espancar alguém mas
não nos questionamos o que esse alguém possa ter feito para essa
acção ter acontecido, nem em que local é, nem como lá apareceu,
muito menos o que se sempre lá se passou, tal como não se conhece o
Cais do Sodré antes da Rua Rosa (saudosa Rua Nova do Carvalho), ou a
Mouraria, ou o Intendente, ou o Desterro, ou até mesmo ao meu lado
no antigo Parque da Cocheira. E a raiva aumenta e dizemos que a culpa
é das empresas de segurança, sim, têm culpa no cartório pois em
tempos tiveram "carta branca" mas não é assim tão
simples.
Não consigo escrever mais, se não,
não iria parar, tal a hipocrisia que se vive aqui, neste pequeno
Paraíso "à beira-mar plantado", tal como chora Camões.
Isto é só uma análise à Humanidade
local e universal tão objectiva como subjectiva pode ser. A nada
devo, a nada temo, como diria Pessoa: "A minha pátria é a
língua portuguesa". Sois todos uns tristes, vós que vindes
para a rua escrever num anonimato frágil e sem saber de causa, que
tendes ideias dogmáticas sobre o ser sem saber o que é dogmatismo,
quem nunca reflectiu sobre Proust e o que é encontrar o tempo
perdido, quem nunca percebeu que o Álvaro só queria comprar tabaco,
quem lê os pasquins e devora o mediatismo dos canais televisivos de
(des)informação a assimilam aquilo como verdade universal, que se
deixa indrominar por esses pensares construidos à medida do que se
quer para um bem só de alguns sem ter o mínimo de consideração
pelos outros, o todo, destruídos e reconstruidos sobre o engano,
apenas para que não se pense bem e se tenha uma ideia pré-concebida
do mundo que não é o real. Viagem, olhem, escutem, sintam o mundo e
tirem a vossas conclusões. O mundo está podre e cabe a nós livrar
dessa podridão, sem guerras, sem fúrias, nem dictatorismos, apenas
com amor e carinho.
Aqui me despeço, deste texto violento
e raivento mas apenas meu e nada mais. E em lágrimas, chamas e
fúria, serei sempre vosso.
Gregório.