Em breves momentos pensei que a
distância chegava, e por momentos chegou, pensei que iria fechar a porta que o
meu peito teima em deixar aberta e que voltaria um novo Homem, capaz de voltar
a andar por entre as ruas e não mais querer saber, gostar de novo de procurar
uns cabelos, agora de caracois finos e loiros e enamorar por uma qualquer viela
que por muito que já lá tenha passado pareça completamente nova, pensei que com
tempo, com o tempo que passo só, tudo passasse como se de nada se tivesse
tratado, uma memória, não um fantasma que me atormenta. Não dar por mim a
pensar em ti, no brilho rubi dos teus cabelos no preocupado que fico quando
penso nos teus olhos chorosos e em não ter noticia alguma, de saber como estás,
apenas estórias vagas de passagems dúbias de por onde tens passado, mais não
sei, não me o dizes, nunca disseste e a culpa sempre minha.
De que vale dissertar sobre isto
senão o alivio pesado que me trás a alma e a tristeza que te levo a ti e o
quanto me custa essa tristeza. Vergonha das palavras.
Tenho medo, sempre tive, e tu?!
Tens medo?! Porque não me o dizes, porque nunca me os contaste?! Quero saber
como estás com quem andas e o que se passa, se os sais de prata retêm as
melhores imagens, se os bichos estão a salvo, se dormes bem de noite, se os
pasadelos já passaram, se as feridas que teu corpo carregou desapareceram para
sempre, como vão as crianças que têm medo de brincar por serem tão diferentes,
se te denovo te enamoras, e tantas coisas mais que não tenho tinta para as
escrever, quero saber, sempre quis, sei que não tenho desculpa mas sempre o
senti assim, vil pensamento o meu de não saber que fazer, este negrume que
apenas a tua presença acalmou e nunca fez desaparecer, que raiva de ter ido
embora, que odio do sufoco que causei, apenas por uma coisa, por nunca ter
sabido o que foi e é amar assim.
A lua mingua e com ela mingua a
minha alma, é uma coisa que sempre tive, mesmo ao teu lado era assim, mas
quando a lua de novo for crescente e claridade que ofusca quando está nova
voltarei à calmaria. Esquecer-te-ei devegar, senão ficarás para sempre marcada
a ferro quente no fundo do que resta do meu peito. O quanto quero regressar
para gritar do fundo, olhando para a varanda vazia, quanto é grande meu amor por
ti, pensamento inutil e idiota.
Que me perdoes minha musa, que
renasças das cinzas, minha fenix carmim.
Esse negrume, para desaparecer, tem de ser de dentro para fora, não de fora para dentro. Não dá para empurrar luz lá para dentro, por mais intensa que seja, e esperar que ela dissipe tudo, substitua tudo por si própria e se instale para ficar depois da missão cumprida. Essa luz é benevolente, demasiado até, mas não é assim tão poderosa nem é, infelizmente, invulnerável ao negrume alheio, e já tem o seu próprio contra o qual lutar. O que quero dizer é: preocupa-te contigo primeiro, luta primeiro por ti. Não és definido por ninguém senão por ti próprio.
ResponderEliminar